sexta-feira, 18 de junho de 2010

Contos fantasmas




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OBJETIVOS GERAIS:

Ampliar os horizontes de ação da criança possibilitando o desenvolvimento de valores culturais que já tem, buscando informações, responsabilidades, desenvolver noções, elaborar condutas, criatividade, espírito crítico, perceber relações entre conhecimentos adquiridos e construir com mais clareza suas categorias de análise.
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OBJETIVOS ESPECÍFICOS:

- Levar o aluno à leitura, a interpretação de diferentes tipos de textos, adquirirem a competência de leitor para obter informações, recriar, observar, comparar e compreender.

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- Levar o aluno a:

• Compreender o sentido nas mensagens orais e escritas que lhe é destinado.
• Desenvolver capacidade de interpretação da mensagem transmitida,
• Ler autonomamente diferentes gêneros de textos.
• Estabelecer relações entre informações do texto e outras de senso comum.
• Utilizar a linguagem para expressar sentimentos, experiências e idéias, acolhendo, interpretando e considerando os das outras pessoas e respeitando os diferentes modos de falar,
• Utilizar a linguagem oral com eficácia, começando a adequá-la à intenções e situações
comunicativas que requeiram o domínio de registros formais.
• Produzir textos escritos, coesos e coerentes, ajustados a objetivos do tema abordado;
• Revisar seus próprios textos a partir de uma primeira versão e, com ajuda do professor, redigir as versões necessárias até considerá-lo suficientemente bem escrito para o momento;
• Fazer uso do dicionário para resolver problemas relativos ao significado de palavras.


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Contos Fantasmas


O diário de Melissa

Eu sempre a encontrava no mesmo horário. Todos os dias, às seis horas e trinta e oito minutos da tarde ela aparecia. Nunca falava nada, e eu, sempre tímido, também cultivava o silêncio que se impunha entre nós. Durante quinze ou vinte minutos ficávamos ali, sentados, conversando através de uma sinuosa troca de olhares.

Lembro de tê-la visto pela primeira vez enquanto caminhava pelos vastos jardins de minha nova residência. Alguns dias antes eu havia subido ao sótão da casa procurando por algo que agora já não me recordo. Encontrei o seu diário em meio a uma pilha de objetos, que foram deixados ali pelos antigos proprietários. O pequeno caderno chamou minha atenção por estar bem conservado, cuidado com evidente carinho. Sentei-me em uma cadeira próxima e, com interesse, comecei a folhear suas páginas, vagarosamente. Perdi a noção de tempo e acabei me esquecendo do que eu fora buscar ali.

Só me dei conta da hora quando o dia começou a escurecer e a leitura tornava-se difícil. Saí do sótão em direção ao meu quarto. Eu simplesmente não conseguia parar de ler aquelas páginas, havia algo de mágico, algum encantamento que fazia com que eu mantivesse meus olhos grudados naquelas páginas. Talvez fosse a caligrafia, que era tenra e suave; ouso dizer que cada letra constituía uma pequena obra de arte. Fiquei acordado até tarde, até que adormeci sentado na pequena poltrona existente em meu quarto.

Por um ou dois dias, meu tempo foi tomado pela leitura daquele diário. Ele pertencera a uma das filhas da antiga proprietária da casa. Nunca soube seu nome, pois o diário não o tinha anotado em lugar algum. Resolvi chamá-la de Melissa – apenas um nome escolhido aleatoriamente. As aventuras e desventuras descritas naquele pequeno caderno talvez não fossem interessantes, mas apresentaram-me uma pessoa com incrível personalidade, graciosa, meiga, e feroz, quando preciso. A cada dia que eu lia o diário, sentia-me mais e mais atraído por ela. A primeira vez que percebi isso, porém, uma estranha sensação tomou conta de mim. Percebi que estava apaixonando-me por alguém que eu ao menos vira, alguém a qual nunca tive qualquer tipo de contato senão por suas palavras. Apesar disso, sentia-me como se conhecesse profundamente Melissa, como se fossemos íntimos.

Deixei o diário de lado por uma semana inteira, e retomei as minhas atividades rotineiras. Um dia, quando eu havia terminado os meus afazeres da tarde, resolvi caminhar pelo extenso jardim dos fundos da propriedade. O canto dos pássaros formava uma orquestra desordenada, mas agradável de ouvir e o cheiro da grama, que se apresentava em um verde vivo, praticamente brilhante, causavam uma sensação de paz que há muito eu não sentia.

Segui pela trilha de pedras até chegar ao exagerado chafariz, que se localizava exatamente no centro do jardim. A água descia da boca de sombrios querubins que rodeavam uma espécie de espiral, que apontava diretamente para o céu. Talvez fosse um indicador do caminho do paraíso, caso alguém estivesse perdido. Sentei na beirada e, com uma das mãos, fiquei revolvendo a água.

Uma estranha sensação tomou conta de mim, a sensação de que alguém o observa e espreita na escuridão, por todos os lugares onde você passa. Parei de mexer na água e dei um pulo para trás, tropeçando e caindo sentado próximo ao chafariz. Ao meu lado, a poucos metros de onde eu estivera, uma presença feminina estava sentada, também revolvendo a água. Ela parou e me olhou, sem demonstrar o mesmo espanto que mostrei quando pulei de onde estava.

Curiosamente, não a ouvi chegar. Talvez eu estive tão perdido em meus pensamentos que meus sentidos estivessem perdidos juntos comigo. Quando meu coração voltou ao ritmo normal, olhei cuidadosamente a mulher sentada ao meu lado. Não precisei de muito tempo para saber que se tratava dela, Melissa. Lá estava ela, do jeito que eu a imaginava: pele branca, que parecia banhada pela luz da lua, longos cabelos negros vertiam-se sobre seus ombros, o rosto de curvas finas e delicadas, e os olhos mais hipnotizantes que eu já vira, negros como a noite.

Quando balbuciei tentando falar alguma coisa, ela fez um sinal com a mão para que eu fizesse silêncio. Obedeci sem pestanejar, mesmo porque eu não fazia a menor idéia do que falar. Com um sinal, ela pediu que me sentasse a seu lado, o que fiz com a velocidade de um adolescente. Trocamos olhares e seguramos nossas mãos; anos de cumplicidade em apenas alguns dias. As horas passaram, a noite chegou, e com ela, Melissa foi embora. Da mesma forma que chegou, sem dizer uma palavra, sem fazer um barulho. Continuei ali, sentando, contemplando a noite, observando-a ir embora.

(...)

Semanas se passaram, e todo dia, exatamente no mesmo horário, eu fazia a minha caminhada em direção ao chafariz. Depois da segunda semana, o canto dos pássaros não passava de um gralhar irritante, e o cheiro do mato não podia mais ser distinguido do cheiro proveniente dos estábulos. Eu não caminhava mais, eu corria apressadamente em direção ao monumento ao grotesco que era aquele chafariz que ocupava o fétido jardim. Tudo mudava quando Melissa chegava e iniciávamos a nossa troca de silenciosa de olhares. Aquele era o momento em que o mar atingia as rochas, o momento em que o mundo parava e os animais calavam-se. Aqueles eram os quarenta e seis minutos mais aguardados do dia.

Quando o encontro terminava, silencioso como começara, eu fazia o caminho de volta ao inferno. Voltava para a minúscula casa que me sufocava enquanto o tempo se arrastava até que chegasse o dia seguinte. Algumas vezes, no meio do dia, percorri a propriedade para tentar encontrar o lugar de onde Melissa vinha. Desnecessário dizer que foi uma busca infrutífera, embora eu suspeitasse de uma falha no muro aos fundos da propriedade, que dava em uma estreita estrada de terra que seguia em direção ao nada.

No quarto mês, uma situação, que eu classificaria como desgraça extrema, deixou-me a ponto de cometer uma estupidez. Melissa não apareceu. Esperei por horas, mas ela simplesmente não veio. Deitei-me no chão ao lado do chafariz e só acordei quando os primeiros raios de sol cutucaram-me o rosto. Voltei para a casa, correndo, e peguei o diário. Passei o resto do dia lendo-o, na vã esperança de encontrar qualquer pista que pudesse me dar o paradeiro de Melissa. Talvez ali estivesse anotado o lugar para onde ela se mudou com a família.

Dois, três, talvez quatro dias seguidos e ela não apareceu novamente. A ausência dela era como uma cólica que me atacava o estômago, fazendo com que me curvasse e, às vezes, caísse no chão. Os meses passaram e Melissa não aparecia. Eu já não trocava as roupas, não cortava o cabelo ou fazia a barba. O calendário pendurado na parede da cozinha ainda estava com a data do meu primeiro encontro com Melissa. Tudo o que fazia era ler o diário e fazer anotações que pudessem ser relevantes sobre ela.

Resolvi, um dia, seguir até a falha no muro dos fundos da propriedade e seguir a obscura estrada que se mostrava visível. Caminhei por alguns quilômetros, sem encontrar nenhuma construção, vila ou viva alma; deparei-me, entretanto, com um imenso descampado, cercado por um muro de não mais do que um metro e altura e completado por grades já enferrujadas até dois metros de altura. O portão estava quebrado, e pendia serenamente para o lado de dentro, escorado em parte pelo muro. A noite já se aproximava e logo não seria possível enxergar muita coisa. Apressei-me através do portão.

Demorei alguns minutos até perceber que o chão era ornamentado por lápides, e, logo o percebi, o desespero tomou conta de mim. Imaginei coisas terríveis, embora esperasse que não fossem verdade. Distante no horizonte, uma figura fez-se visível. Não demorei até perceber que era ela, a figura que povoava a minha imaginação e que dominava o meu universo. Melissa estava ajoelhada de frente para uma sepultura, que logo deduzi ser a dela. Corri ao seu encontro, e, como de costume, não trocamos uma palavra ao estarmos perto um do outro. Lá estava ela, linda como sempre, morta como sempre. Ela apontava para a sepultura, com um pequeno sorriso no rosto. Abaixei para tentar ler o nome que ornava aquele belo pedaço de mármore. Quando finalmente compreendi o que ali estava escrito, senti a cabeça girar. A escuridão se aproximou e a última coisa que me lembro foi o impacto de minhas costas no chão.

***

Quando acordei, estava deitado em minha cama, os lençóis desarrumados e sujos de barro, provavelmente por causa da sujeira em meus pés. Lentamente, as imagens foram aparecendo em minha mente, até que finalmente lembrei-me do ocorrido. Corri até a cozinha em direção ao calendário, ofegante, arranquei todas as folhas, uma por uma, até que as lágrimas começaram a descer de meus olhos quando percebi que a data era sempre a mesma: 23 de maio de 1978. O calendário não podia estar defeituoso, eu mesmo o comprara na data anterior à que ele mostrava e havia verificado-o atentamente.

Ainda atordoado, apressei-me de volta ao meu quarto em busca do diário de Melissa. Ao folheá-lo, entendi a razão pela qual me apaixonara de imediato por ela. A última página relatava algo parecido com “(...) hoje era o grande dia, o dia em que nossa união seria selada para sempre (...)”; mais adiante, a caligrafia que outrora era bela e graciosa transformou-se em garranchos enfadonhos, e dizia algo assim: “Espero que o Senhor, misericordioso, tenha uma explicação bem convincente para o que aconteceu, do contrário, vou entender este gesto como extremo egoísmo e sadismo!”. A data era 24 de maio de 1978. Chorei novamente quando lembrei que 24 de maio era a mesma data que constava na bela sepultura de mármore, bem abaixo do meu nome, ao lado da minha data de nascimento.


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O baile do caixeiro-viajante


Sábado é dia de baile, tanto na roça quanto na cidade.
Numa cidade pequena do interior o baile é sempre um grande
acontecimento. Melhor situação para namorar e para arranjar namorado não
tem.
O sábado é um dia muito propício para o nascimento de grandes amores.
Pois foi num baile de sábado que o moço de fora apaixonou-se por uma donzela
da terra. Foi mais ou menos assim que aconteceu.
Leôncio, sim, era esse o seu nome, conheço bem sua incrível história
de amor.
Leôncio era um caixeiro-viajante da capital e vinha à cidade uma vez por
mês prover de mercadorias as vendas do lugar. Ia e voltava no mesmo dia,
mas houve algum problema com sua condução e daquela vez ele teve que
dormir na cidade.
Cidade pequena, sem muitos atrativos, o que se poderia fazer à noite
para distração?
Era dia de baile na cidade, um sábado especial, e uma orquestra de fora
tinha sido contratada.
O moço do hotel que servia o jantar comentou:
– Seu Leôncio, este baile o senhor não pode perder.
E não podia mesmo, mal sabia ele.
Leôncio mandou passar o terno e foi ao baile.
Gostava de dançar, sabia até dar uns bons passos, mas era tímido,
relutava em tirar as moças.
Passou boa parte do tempo de pé, apreciando, bebericando um vermute
só para ter o que fazer com as mãos.
Por volta de meia-noite sentiu que chegava o sono e pensou em se retirar.
Foi quando viu Marina entrar no salão. Ficou sabendo depois que seu nome
era Marina.
Marina chegou só e, ao entrar, passou junto a Leôncio. Bem perto dele
ela parou e se virou para trás.
– Oh! Deixei cair minha chave no chão.
Ela falava consigo mesma, distraída que estava, mas para Leôncio, que
tudo ouviu atentamente, suas palavras funcionaram como uma deixa. Ele se
abaixou rapidamente, pegou a chave do chão e a estendeu à sua dona.
Antes que ela dissesse qualquer coisa ele falou:
– Pode agradecer com uma contradança, senhorita.
– Marina, meu nome é Marina. Sim, vamos dançar.
Dançaram aquela contradança e mais outra e outras mais. Dançaram o
resto da noite, até o baile terminar.
Parecia que os dois eram velhos parceiros de dança, tão leves e tão
graciosos eram seus passos.
Leôncio se sentia completamente enlevado, como se o encontro com a
bela dançarina fosse um presente enviado pelo céu. Presente que ele nem
merecia, chegou a pensar. Agradeceu à providência ter permanecido na cidade.
Já nem queria ir embora no dia seguinte.
Em nenhum momento Marina fez menção de o deixar para encontrar
amigos ou conhecidos no salão. Ele tinha a sensação de que ela fora ao baile
só por ele, de que era com ele que queria dançar a noite toda.
Não teria namorado, noivo, marido?
Muitas paixões chegam enquanto se dança.
Leôncio apaixonou-se por Marina ao dançar com ela.
Então, a orquestra tocou a música de encerramento e o baile acabou, já
era alta madrugada.
Leôncio insistiu em acompanhar a moça até sua casa. Ela aceitou a
companhia, era perto, iriam a pé.
Estava frio lá fora, uma fina garoa molhava as calçadas. Na portaria do
clube Leôncio pegou a capa que tinha deixado ali guardada. Ele tinha uma capa
da qual nunca se separava. Viaja a muitos lugares diferentes, enfrentando os
climas mais imprevisíveis. A capa era sempre o abrigo garantido.
Leôncio ofereceu a capa à companheira para que se protegesse do mau
tempo.
– Para você não se resfriar, faz frio.
Ela aceitou, vestiu o sobretudo e os dois foram andando pelas calçadas.
Caminhavam de mãos dadas, como namorados, falavam pouco, só o essencial.
Próximo à saída da cidade, a moça disse ao caixeiro-viajante:
– Despedimo-nos aqui.
E explicou por quê:
– Não fica bem você ir comigo até onde moro.
– Está bem, como quiser – ele consentiu.
Começando a despir o sobretudo, ela disse:
– Leve sua capa.
– Não, fique com ela. Está frio.
E completou:
– Depois você me devolve.
Era difícil para Leôncio deixar a moça ir, mas havia a possibilidade do
amanhã e do futuro todo.
Ele propôs, com o coração na mão:
– Amanhã, às oito a noite, em frente à matriz?
Ela assentiu e o beijou.
A garoa fria tinha se transformado em densa neblina, mal se vislumbrava
a luz dos postes de iluminação.
O silêncio reinava soberano.
Um cão uivou ao longe.
Leôncio viu Marina desaparecer na bruma da madrugada. Com as mãos
nos bolsos e o corpo retesado pela friagem, o caixeiro retornou ao hotel.
O dia seguinte foi de grande ansiedade, mas finalmente a noite chegou
para Leôncio. Muito antes da hora marcada lá estava ele em frente à igreja
esperando por Marina. Só quando o relógio da matriz bateu doze badaladas
Leôncio aceitou com tristeza que ela não viria mais. Temeu que alguma coisa
grave tivesse acontecido. Tinha certeza de que ela gostara dele tanto quanto
ele gostara dela.
Alguma coisa grave teria acontecido.
Ele ia descobrir.
Era tarde e só restava ir dormir, mas na manhã seguinte, mal se levantou,
já foi perguntando pela moça. Na rua, no largo da matriz, em todo lugar,
interrogava sobre a moça e nada.
Estranhamente ninguém sabia dizer quem era ela. Numa cidade pequena
todo mundo se conhece, todos sabem da vida de todos, todos se controlam,
vigiam-se uns aos outros. A fofoca é cultivada como se fosse uma obrigação,
como se representasse um dever cívico.
Uma linda moça da cidade vai ao baile desacompanhada, dança a noite
toda com um desconhecido e ninguém sabe quem ela é?
Ele continuou perguntando por sua dançarina. Foi aos armazéns e lojas
que tinha como clientes, descrevia a moça, dizia seu nome e ninguém sabia
dizer quem era a donzela.
– Aquela com quem dancei ontem a noite toda.
Ninguém tinha visto.
Desanimado, voltou para sua hospedagem.
Então um velho se apresentou, era um empregado do hotel, empregado
que Leôncio nunca tinha visto, nem nessa nem em outras estadas na cidade.
Era alto, magro e de uma palidez desconcertante.
O velho empregado do hotel lhe disse:
– Moço, conheci uma tal Marina igualzinha à sua.
E completou, baixando a voz respeitosamente:
– Mas ela está morta, morreu há muito tempo.
Disse que a moça pereceu num desastre de carro, quando estava fugindo
para se casar com um caixeiro-viajante, casamento que a família dela não
queria, de jeito nenhum.
Leôncio ficou chocado com a história, que absurdo! Imaginar que se
tratava da mesma pessoa!
– Nem pensar. Eu a tive nos braços a noite toda!
Mas o velho funcionário insistiu:
– No túmulo dela tem a fotografia, quer ver?
– Não pode ser, é um disparate, mas quero ver.
O velho não se fez de rogado.
Em poucos minutos estavam os dois subindo a ladeira que levava ao
afastado cemitério da cidade.
Com a cabeça girando, cheio de dúvidas e incertezas, Leôncio se
perguntava:
– O que é que eu estou fazendo aqui?
Chegaram ao portão do campo-santo e o velho disse a Leôncio que
entrasse sozinho. Não gostava de cemitérios, desculpou-se. Explicou como
chegar ao túmulo da moça, despediu-se com uma reverência e foi embora.
Não foi difícil para o caixeiro-viajante encontrar a campa que seu
acompanhante descreveu com precisão.
A tardinha se fora, escurecia, a noite já caía sobre o cemitério. A neblina
voltava a descer e esfriara um pouco. Leôncio sentia frio, tremia, mas podia
enxergar perfeitamente.
Estava de pé diante da tumba. E o retrato da defunta que ali jazia era
mesmo o dela. “Aqui descansa em paz Marina, filha querida”, era o que dizia
a inscrição em letras de bronze, havia muito tempo enegrecidas, fixadas sobre
o mármore gasto da lápide mortuária.
O olhar aturdido de Leôncio desviou-se do retrato, não queria ver mais
o rosto amado aprisionada na pedra pela morte. Triste desdita a do viajante,
havia mais coisa para ver ali.
Uma tragédia nunca se completa sem antes multiplicar o desespero.
O olhar de Leôncio subiu em direção à parte alta do sepulcro.
Na cabeceira do jazigo estava uma peça que lhe era bastante familiar.
Sentiu um calafrio lhe percorrer a espinha, tinha as pernas bambas, o
coração disparado.
Aproximou-se mais do túmulo para ver melhor.
Estendida sobre a sepultura, à sua espera, repousava sua inseparável capa.

Fonte: Prandi, Reginaldo. Minha querida assombração. São Paulo:
Companhia das Letrinhas, 2003.

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Encurtando caminho

Tia Maria, quando criança, se atrasou na saída da escola, e na hora em que
foi voltar para casa já começava a escurecer. Viu uma outra menina passando
pelo cemitério e resolveu cortar, fazendo o mesmo trajeto que ela.
Tratou de apressar o passo até alcançá-la e se explicou:
– Andar sozinha no cemitério me dá um frio na barriga! Será que você se
importa se nós formos juntas?
– Claro que não. Eu entendo você – respondeu a outra. – Quando eu
estava viva, sentia exatamente a mesma coisa.

Do livro Sete histórias para sacudir o esqueleto. De Ângela Lago,
Editora Companhia das Letrinhas, São Paulo, 2002


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O Fantasma do Lustre
Marlene B. Cerviglieri

Estávamos todos reunidos na pequena biblioteca de nossa casa. Como era de costume sempre após o jantar fazíamos nossos deveres de escola. Eu, estava às voltas com meus teoremas, minha irmã com sua redação e meu irmão tentando recortar alguma figura para o cartaz de ciências. Ali, entretidos, ouvimos um estalo vindo do alto. Um olhou para o outro e não dissemos nada, apenas balançamos os ombros como que dizendo: Que foi? Continuamos concentrados. De repente a luz piscou duas vezes, mas, imediatamente, voltou e ficou normal. Ficamos quietos novamente.
De repente ouvimos um forte assobio... Aí então não deu para ficar quieto, saímos correndo da sala. Fomos direto à sala de estar onde papai e mamãe estavam dando uma olhadinha no jornal.
- Que foi? Perguntaram os dois já de pé tal a pressa com que adentramos a sala.
- Tem um fantasma no lustre, dissemos os três quase que gaguejando.
- O quê? Disse meu pai.
- É um fantasma no lustre!
Acompanhamos meu pai que levou consigo uma escada. Até ai então não entendíamos porque uma escada. Puxa, ele não tinha medo mesmo.
Subiu nela, vimos que apertava alguma coisa e depois delicadamente pegou algo. Desceu.
- Prontos para ver o fantasma?
Grudamo-nos uns nos outros...



2. O que você acha que poderia estar causando o pisca-pisca da lâmpada?
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3. E o assobio? O que poderia ser?
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4. Quando você fica com medo costuma chamar um adulto?
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5. Escreva algumas situações em que temos medo real:
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6. Agora, situações em que não há motivo real mas mesmo assim sentimos medo:
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O medo e uma arma do nosso organismo para nos proteger. Legal?

7. O que você acha que o pai das crianças tinha na mão ?
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8. Desenhe o “fantasma” da maneira que você imagina que ele seja:


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Continuando a nossa historia...

- Primeiro: a lâmpada estava meio solta. Apertei-a e agora não vai mais piscar. E aqui está o fantasma que assobiou para vocês.
Abriu a mão e lá estava um inseto pequenino.
- Papai, o que é isso?
- Uma cigarra meus filhos, e elas cantam, assoviam!
Ficamos de boca aberta olhando.
- Então não tem fantasma?
- Claro que não.
Voltamos à outra sala e lá meus pais riam do nosso susto.
Puxa e eu que pensava que tinha um fantasma no lustre!
A janela bateu com o vento e, novamente, saímos correndo.
- Foi à janela - dissemos juntamente com as risadas de meus pais.
Sempre que entro numa biblioteca lembro deste fato, olho para os lustres e procuro o fantasma, ou seja, as cigarras.

Gostou ?????
Fala sério !!!!

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a) Quando você tem algum medo a quem pede ajuda?
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b) Escreva uma pequena redação contando uma situação de medo que você viveu e como foi solucionada:
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